Ingrid Newkirk, da PETA (People for the Ethical Treatment of Animals),
escreveu um Alerta da PETA
referente à posição dessa organização quanto à exploração “feliz”.
Esse Alerta diz, em parte:
A PETA tem feito, e continuará
fazendo, muita pressão para reduzir o total de sofrimento nas indústrias da
carne, dos ovos e dos laticínios—porque isso faz uma enorme diferença se você
for um porco ou uma galinha numa granja ou fazenda industrial. Cessamos os
protestos da PETA na frente do Burger King ou do McDonald’s quando essas
lanchonetes concordaram com as reformas, mas isso não significa que estejamos,
alguma vez, sugerindo às pessoas que comam carne no Burger King ou em qualquer
outro lugar—porque sabemos que cada mordida envolve um sofrimento massivo. Sim,
é melhor pagar um pouco mais por um ovo de uma galinha que teve uma vida um
pouquinho menos horrível do que uma que sofreu mais, mas devemos fazer mais
pelos animais. De fato, ainda temos de encontrar uma fazenda industrial
“humanitária” onde os animais não tenham seus rabos decepados e suas orelhas
dolorosamente marcadas com cortes, onde eles não sejam debicados, descornados
ou castrados sem anestesia, onde não fiquem apinhados sem luz solar ou ar
fresco, onde seus filhos queridos não sejam levados embora, onde possam ter
companhia, onde não sejam embarcados para um curral de engorda antes do abate,
ou onde sejam abatidos instantaneamente sem o trauma da captura, o horror do
transporte ou o terror de ver outros animais serem mortos até terem o mesmo
destino.
A PETA tem promovido uma vida
vegana desde sua origem, em 1980. Nosso mote é: “Os animais não são nossos para
comermos, vestirmos, fazermos experiências, usarmos como entretenimento ou
abusarmos de qualquer outra maneira”. Com tantos livros de culinária vegana e tantas
opções alimentares veganas disponíveis, e com programas como o Physicians
Committee for Responsible Medicine’s 21-Day Vegan Kickstart, além do nosso
popularíssimo kit para começar a ser vegano, todos podemos ajudar os
animais—sem perder nada. Vamos viver e deixar viver, e convidar os outros para
se juntarem a nós, lembrando-lhes que os animais têm emoções e necessidades
exatamente como os seres humanos.
Não existe
carne humanitária. Dar alguns
centímetros a mais de espaço para os animais viverem não basta. Eles merecem
mais. O momentum está do nosso lado,
mas será necessário que cada um de nós realize essa mudança sendo um defensor
ativo dos direitos animais. Obrigada!
Reconheço, com gratidão, o fato de que Ingrid Newkirk me apresentou o
veganismo. Embora eu tenha me tornado vegetariano no final dos anos 1970,
continuei comendo laticínios e ovos por acreditar que isso fosse necessário, já
que não estava comendo carne de vaca, aves, peixe, etc. Eu nunca tinha ouvido a
palavra “vegan” e não sabia que era possível ter uma vida saudável (e, muito
menos, uma vida mais saudável ainda) sem consumir produtos de origem animal.
Encontrei Ingrid por acaso, em outubro de 1982—há 30 anos—e ela literalmente
jogou fora todos os laticínios que estavam na minha geladeira! Tenho sido
vegano desde então. Aprecio o que ela fez e não tenho nenhuma dúvida de que ela tenha um compromisso com o veganismo.
Mas, daqueles anos iniciais para cá, a PETA mudou drasticamente. Desde
sua incessante série de campanhas sexistas que meramente reforçam a visão de que
os outros são mercadorias, a qual caracteriza tanto o sexismo quanto o especismo,
até sua posição quanto ao movimento não-matar, não pode haver dúvidas: a PETA
ficou profundamente envolvida com todo o movimento pela exploração “feliz” ou
“humanitária”.
A PETA dá prêmios
a vários vendedores de carnes e outros produtos animais “felizes”;
A PETA, junto com outros grupos de defesa animal, endossou
entusiasticamente o programa/selo “Animal Compassionate” do Whole
Foods;
A PETA deu um prêmio
em 2004 a Temple Grandin, a planejadora dos matadouros “felizes” e do que Grandin
chama de sistema de abate “escadaria para o céu”;
A PETA anuncia e depois suspende boicotes a usuários institucionais de
animais, tais como o Kentucky Fried
Chicken e o Burger King,
e elogia essas empresas por sua suposta preocupação com o bem-estar animal;
A PETA elogia
o McDonald’s, afirmando que essa lanchonete “realmente ‘lidera’ as reformas das
práticas dos fornecedores de comida rápida envolvendo o tratamento e o abate
dos bovinos e aves criados para produzir carne”.
Dizer que isso não constitui um apoio à exploração “feliz” ou
“humanitária” é simplesmente incorreto.
Newkirk diz:
Cessamos os protestos da PETA na
frente do Burger King ou do McDonald’s quando essas lanchonetes concordaram com
as reformas, mas isso não significa que estejamos, alguma vez, sugerindo às
pessoas que comam carne no Burger King ou em qualquer outro lugar—porque
sabemos que cada mordida envolve um sofrimento massivo.
Mas se a PETA suspende um boicote ou um protesto, ela nem precisa
sugerir às pessoas que comam carne no Burger King ou no McDonald’s; assim que
ela anuncia que a oposição ativa está no fim, a mensagem transmitida é: quem se preocupa com os animais pode voltar
a frequentar essas lanchonetes.
Quando a PETA elogia o McDonald’s, o Burger King, o programa “Animal
Compassionate” do Whole Foods, ou o Kentucky Fried Chicken, a mensagem que está
sendo passada é muito clara. Não há
necessidade de dizer “está certo comer um hambúrguer”. Essa mensagem está
inquestionavelmente implícita quando a PETA elogia a empresa ou seu programa de
selos/rótulos.
Newkirk parece reconhecer que as reformas bem-estaristas fazem muito
pouco para melhorar o bem-estar animal. Ela caracteriza os esforços reformistas
como algo que proporciona uma “vida um pouquinho menos horrível” aos animais e
que dá “alguns centímetros a mais de espaço para os animais viverem”. Eu
certamente concordaria com ela, aqui.
Mas então por que a PETA gasta tantos de seus recursos nessas campanhas
pelas reformas do bem-estar? Elas não são uma parte pequena do programa da PETA.
As campanhas pelas reformas bem-estaristas e as campanhas de um só tema são
peças centrais do programa da PETA. De fato, em contraste com seu apoio à
promoção do veganismo—Newkirk menciona o apoio de sua organização ao “21-Day
Vegan Kickstart e nosso popularíssimo kit para começar a ser vegano”—o apoio da
PETA às reformas do bem-estar e ao ativismo de um só tema é avassalador.
Há alguns anos, o vice-presidente sênior da PETA, Dan Mathews, deu uma entrevista
dentro de uma lanchonete McDonald’s. O repórter perguntou seria OK pedir um
cheeseburger. Mathews respondeu: “Pode pedir o que quiser”... “A metade dos
nossos membros são vegetarianos e a outra metade acha que isso é uma boa
ideia”.
Se apenas metade dos membros da PETA são vegetarianos, e não
necessariamente veganos, e a outra metade ainda está comendo carnes, laticínios
e outros alimentos de origem animal, então fica fácil entender por que a PETA
emprega o esforço que emprega nessas campanhas por reformas do bem-estar. É
mais fácil atender a uma base de doadores “compassiva” do que a uma base vegana.
Então a PETA ficará promovendo reformas do bem-estar porque é isso que a
maioria de seus membros quer; eles querem poder consumir produtos animais, mas
ainda se considerar defensores dos “direitos animais”.
Há muitos anos, o falecido defensor dos animais Henry Spira decidiu
trabalhar com usuários institucionais de animais para tentar efetuar mudanças
de “dentro”. Uma de suas campanhas envolvia trabalhar com a indústria de
cosméticos para encontrar alternativas ao uso de animais vivos em testes.
Uma defensora dos animais criticou
Spira:
Ele está se associando com nosso
inimigo. Há seis ou sete anos, tínhamos muito em comum. Tudo que ele fazia na
época era colocar o pedregulho no chão para outras pessoas pavimentarem o
caminho, o que era crucial. Mas acho que Henry foi enganado pela resposta da
indústria. Ele não foi capaz de se libertar do atoleiro em que se meteu quando
se tornou um mediador da indústria. A busca de alternativas é um estratagema
bastante transparente para manter o status quo.
Essa defensora dos animais era Ingrid Newkirk. O ano,1989.
E as críticas que Newkirk fez, em 1989, à campanha de Spira referente aos
cosméticos se aplicam diretamente a essas campanhas contemporâneas para tornar
a criação animal mais “humanitária”: elas requerem que as organizações de
defesa animal se tornem “mediadoras da indústria” como parte de um “estratagema
transparente para manter o status quo.”
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Se você não for vegano(a), por favor torne-se vegano(a). Veganismo é não
violência. Sobretudo, é não cometer violência contra os outros seres
sencientes. Mas também é não cometer violência contra a Terra e contra si
mesmo.
Gary L. Francione
Professor, Rutgers University
© 2012 Gary L. Francione
Tradução: Regina Rheda