sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Entrevista


Gary Francione

Francione explica, de forma coloquial, o capítulo 7 de seu livro Rain Without Thunder. Trecho de entrevista em duas partes, gravada no podcast do Vegan Freak de 30 janeiro e 4 de fevereiro de 2007.

"No capítulo 7 daquele livro eu digo que se os defensores dos animais quiserem realizar campanhas legislativas ou regulatórias, eles não devem buscar a regulação bem-estarista que foi promovida nos anos 90 e que ainda está sendo promovida agora. Deveriam, pelo menos, tentar assegurar que as campanhas não reforcem a condição de propriedade dos animais.
Ou seja: se eles forem fazer essas campanhas (e eu sou muito cético quanto a elas), digo que eles deveriam, pelo menos, buscar aquelas campanhas que representam uma erradicação incremental da propriedade (no caso de eles poderem fazer isso) porque isso é consistente com o objetivo final da abolição. E nesse contexto do capítulo 7 eu ofereço, de um modo bem preliminar, 5 condições conjugadas. E eu digo, nesse capítulo: Olhem, eu ofereço esta análise como um modo preliminar de alimentar a discussão, dentro do movimento, sobre por que o bem-estar não funciona. E insisto que, se formos buscar campanhas legislativas e regulatórias (quanto às quais eu sou cético de um modo geral), acho que pelo menos se deve tentar o afastamento incremental da condição de propriedade. E eu disse que se você quiser fazer isso, a campanha tem de ter pelo menos 5 características (e eu tenho 5 conjugadas – ou seja: todas elas devem ser satisfatórias – as 5 características conjugadas).
Primeiro, você tem de ter um proibição.
Segundo, a proibição tem de ser a de uma atividade institucional significativa, de forma que não seja só uma proibiçãozinha menor, mas uma grande proibição – e eu reconheço que estes termos são imprecisos.
A terceira característica seria que a proibição reconheça explicitamente que os animais têm valor inerente.
A quarta condição é a de que a proibição reconheça que o interesse animal a ser protegido não pode ser sacrificado por razões econômicas (porque os interesses SERÃO sacrificados por razões econômicas).
E cinco, que a proibição de maneira alguma seja substituída por uma forma mais humanitária da mesma prática, e que a campanha pela proibição esteja casada com um apelo muito claro pela abolição de toda exploração animal.
Então eu tenho umas condições muito, muito duras. São muito duras estas condições que uma campanha teria de satisfazer para representar, a meu ver, um abandono suficiente do paradigma de propriedade. Eu também deixo claro, no capítulo 7, que eu não acho que as campanhas que reúnem todas essas características vão ter chance de sucesso neste momento, já que os animais são propriedade. E qualquer campanha que seja assim tão clara quanto à rejeição da condição de propriedade – da rejeição incremental da condição de propriedade -- não vai ter chance de sucesso numa sociedade em que os animais são propriedade e em que os interesses econômicos das pessoas nos animais é significativo.
Eu também digo que, mesmo se uma campanha como essa tivesse sucesso, a coisa seria imperfeita porque isso não vai resultar em libertar todos os animais da exploração, não vai resultar na abolição. Vai resultar em passos incrementais na direção da abolição, vai resultar em um passo incremental na direção da erradicação da condição de propriedade, mas não vai ser uma situação perfeita, porque ainda deixará muitos animais no sistema de exploração, já que é, por definição, um passo incremental.
Então a idéia era simplesmente dizer: Olhem, eu sou cético quanto a todas essas campanhas regulatórias e legislativas, eu acho que devemos nos concentrar no veganismo, na abolição vegana criativa, boicotes dentro da lei, esses tipos de atividades de base que resultarão na construção de um movimento social e político que sustentará passos abolicionistas mais tarde; não temos apoio suficiente à abolição agora, e essas campanhas legislativas e regulatórias não darão, invariavelmente, em nada – a prova empírica disso é clara. E eu digo que se vocês quiserem buscar essas coisas, pelo menos busquem coisas que afastem incrementalmente os animais da condição de propriedade.
No entanto, cuidado, gente, eu não penso que essas coisas podem funcionar agora porque qualquer campanha que tiver aquelas 5 características provavelmente sofrerá uma poderosa resistência por parte dos exploradores de animais e das pessoas que consomem animais, que não apoiarão essas medidas". GLF.

©Gary L. Francione
Tradução: Regina Rheda