Caros(as) colegas:
Na sexta-feira, 25 de fevereiro, um funcionário do controle animal de Oklahoma aplicou injeções letais em cinco cães de rua. No sábado, o funcionário descobriu que um dos cães, um filhote em quem ele havia aplicado duas injeções letais, ainda estava vivo. O filhote foi levado a um veterinário, que colocou uma nota sobre a sobrevivência do cão num website de adoção de animais de companhia. E agora, centenas de pessoas dos Estados Unidos e do Canadá estão tentando adotar o cão.
Por quê?
Milhões da animais sadios são mortos todos os anos, em abrigos, porque ninguém quer esses animais. E agora, como esse cão escapou da morte de uma maneira aparentemente milagrosa, centenas de pessoas querem adotá-lo. Segundo um comentário, “as pessoas estão interessadas no cachorrinho porque a história dele é singular”.
Essa história é semelhante àquelas de animais de fazenda que escapam de matadouros e depois as pessoas lhes dão lares para eles morarem o resto de suas vidas. Eles também são “especiais”. Eles escaparam da exploração institucionalizada que nós estabelecemos. Eles enganaram a morte.
Muitas pessoas pensam que, quando um animal escapa da morte dessa maneira, isso é uma espécie de sinal divino. Ironicamente, esses tipos de eventos reforçam nossa visão de que como não há nenhuma intervenção divina em favor dos outros animais que são mortos em “abrigos” ou matadouros, então é assim que as coisas têm de ser para esses animais. Eles são mortos como parte da ordem “natural”.
Suponho que, se Deus existir, ele(a) está igualmente preocupado(a) com os outros quatro cães que foram mortos na sexta-feira pelo funcionário de Oklahoma, com os outros milhões que são mortos em “abrigos”, e com os bilhões que são mortos simplesmente porque somos tão egoístas que achamos que o prazer do nosso paladar justifica privar um outro ser senciente de sua vida.
E seja qual for o modo de Deus ver a situação, eu sugiro que nossa reação às situações desse tipo deveria nos forçar a pensar sobre por que participamos da injustiça da exploração animal, em vez de pensar que apenas os animais “sortudos” que escapam da nossa injustiça institucionalizada é que importam moralmente.
Se vocês não forem veganos(as), tornem-se veganos(as). É fácil; é melhor para a sua saúde e o planeta. Mas o mais importante é que é a coisa moralmente certa a fazer. Vocês nunca farão mais nada tão fácil e tão gratificante em suas vidas.
E, se puderem, adotem, ou acolham até que alguém adote, um não humano sem lar. Fomos nós que metemos os animais nesta confusão; temos uma obrigação coletiva de ajudá-los a sair dela. Há muitos cães, gatos e outros não humanos sem lar, na sua região. E todos eles são especiais.
Gary L. Francione
© 2011 Gary L. Francione
Adendo – 5 de março de 2011:
Numa reportagem em vídeo de 4 de março da ABC News, Miracle Mutt: Puppy Rises Again, o funcionário do controle animal que tentou matar o cachorrinho falou: “Eu diria que Deus tinha planos para aquele cachorro”. Aparentemente, Deus não tinha planos para os outros que o funcionário matou. Uma outra pessoa comentou que o cachorro é “nosso herói”. “Ele está aqui por uma razão”. Os outros cães não estão aqui por uma razão. Eles não passam de lixo.
Só nos dois últimos dias, houve 44 cães na lista de condenados à morte da cidade de Nova York, mas, segundo a ABC News, há “milhares” de pessoas em todo o mundo querendo adotar o “vira-lata milagroso”. E enquanto assiste à reportagem da ABC, a maioria das pessoas consome uma refeição que inclui carne e outros produtos animais.
Somos uma espécie muito estranha, e a nossa esquizofrenia moral em relação aos animais não humanos certamente mina nossa alegação de que somos superiores devido à nossa racionalidade.
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Tradução: Regina Rheda