domingo, 15 de julho de 2012

Senciência

Postado por Gary L. Francione em seu blog em 12 de julho de 2012

Um ser senciente é um ser que é subjetivamente consciente; um ser que tem interesses; isto é, um ser que prefere, deseja ou quer. Esses interesses não precisam ser iguais aos interesses humanos. Se um ser tiver algum tipo de mente que possa experienciar a frustração ou a satisfação de qualquer interesse que esse ser tiver, então esse ser é senciente.
Pensamos de modo especista quando alegamos que um ser deva ter uma mente igual à humana para importar moralmente. Ou seja, é especista alegar que um ser deva ter um sentido reflexivo de autoconsciência, ou pensamento conceitual, ou a habilidade geral de experienciar a vida à maneira dos humanos, para poder ter o direito moral a não ser usado como um recurso. Contanto que haja alguém ali que seja subjetivamente consciente e que, à sua própria maneira, se importe com o que lhe acontece, isso é tudo de que se precisa para esse alguém ter o direito moral de não ser usado como um recurso.
Há uma incerteza quanto à linha limítrofe entre senciente e não senciente? Claro que sim. No entanto, está muito claro, sem qualquer sombra de dúvida, que todos os animais que exploramos rotineiramente—peixes, vacas, porcos, ovelhas, cabras, galinhas e outras aves, lagostas, etc.—são sencientes. Portanto sabemos tudo que precisamos saber para tomar a decisão moral de parar de comer esses animais e de usá-los para roupa, sapato, etc.
Podemos dizer com tanta certeza quanto possível em termos empíricos que as plantas não são sencientes? Sim, claro que podemos. As plantas estão vivas; elas reagem a estímulos. Mas as plantas não reagem através de nenhum processo consciente. Ou seja, não há nenhuma razão para se acreditar que as plantas tenham qualquer tipo de mente que se importe com o que acontece à planta.
As pessoas dizem com frequência que não considero os insetos sencientes. Essa afirmação está incorreta. Eu não sei se os insetos são sencientes. Arrisco para o lado da senciência e não os mato intencionalmente. De fato, tomo cuidado quando estou andando para não matá-los nem machucá-los. Não sei se as amêijoas ou outros moluscos são sencientes, embora eu arrisque a favor da senciência e não coma moluscos nem compre produtos feitos com eles.
Mas repito: não saber onde traçar a linha limítrofe não significa que não saibamos o suficiente, agora mesmo, para ter absoluta certeza de que temos a obrigação moral de não comer animais nem usá-los para roupa, sapato, etc., e que o veganismo deve ser a base moral de um movimento que busque justiça para os animais não humanos.
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Se você não for vegano(a), por favor torne-se vegano(a). Veganismo é não violência. Sobretudo, é não cometer violência contra os outros seres sencientes. Mas também é não cometer violência contra a Terra e contra si mesmo.
Gary L. Francione
Professor, Rutgers University
© 2012 Gary L. Francione
Tradução: Regina Rheda
Postscriptum – 13 de julho de 2012
Várias pessoas me escreveram para perguntar se considero que comer amêijoas seja vegano, depois de verem o vídeo que linquei acima.
Não, eu não considero que consumir esses animais não humanos seja coerente com ser vegano.
No caso das plantas, podemos ter tanta certeza sobre a não senciência quanto sobre qualquer coisa. No caso das amêijoas, ostras, etc., não se tem certeza sobre a senciência e, portanto, me parece que faz um bom sentido, em termos morais, presumir a favor da senciência e contra a exploração. E há outros moluscos (cefalópodes, tais como a lula, o polvo, etc.) que são mais desenvolvidos neurologicamente e nos quais a senciência está claramente presente. Portanto considero que é uma questão de bom senso moral presumir a favor da senciência das amêijoas, ostras, vieiras e todos os outros moluscos (inclusive as lesmas), e não comê-los nem explorá-los de nenhuma outra forma como recursos dos humanos.