Um ser senciente é um ser que é subjetivamente consciente; um ser que
tem interesses; isto é, um ser que prefere, deseja ou quer. Esses interesses
não precisam ser iguais aos interesses humanos. Se um ser tiver algum tipo de mente que possa
experienciar a frustração ou a satisfação de qualquer interesse que esse ser tiver, então esse ser é senciente.
Pensamos de modo especista quando alegamos que um ser deva ter uma mente
igual à humana para importar moralmente. Ou seja, é especista alegar que um ser
deva ter um sentido reflexivo de autoconsciência, ou pensamento conceitual, ou
a habilidade geral de experienciar a vida à maneira dos humanos, para poder ter
o direito moral a não ser usado como um recurso. Contanto que haja alguém ali que seja subjetivamente
consciente e que, à sua própria maneira, se importe com o que lhe acontece,
isso é tudo de que se precisa para esse alguém ter o direito moral de não ser
usado como um recurso.
Há uma incerteza quanto à linha limítrofe entre senciente e não
senciente? Claro que sim. No entanto, está muito claro, sem qualquer sombra de
dúvida, que todos os animais que
exploramos rotineiramente—peixes, vacas, porcos, ovelhas, cabras, galinhas e
outras aves, lagostas, etc.—são sencientes. Portanto sabemos tudo que
precisamos saber para tomar a decisão moral de parar de comer esses animais e de usá-los para roupa, sapato, etc.
Podemos dizer com tanta certeza quanto possível em termos empíricos que
as plantas
não são sencientes? Sim, claro que podemos. As plantas estão vivas; elas reagem
a estímulos. Mas as plantas não reagem através de nenhum processo consciente.
Ou seja, não há nenhuma razão para se acreditar que as plantas tenham qualquer tipo de mente que se importe
com o que acontece à planta.
As pessoas dizem com frequência que não considero os insetos sencientes.
Essa afirmação está incorreta. Eu não sei se os insetos são sencientes. Arrisco
para o lado da senciência e não os mato intencionalmente. De fato, tomo cuidado
quando estou andando para não matá-los nem machucá-los. Não sei se as amêijoas
ou outros moluscos são sencientes, embora eu arrisque a favor da senciência e
não coma moluscos nem compre produtos feitos com eles.
Mas repito: não saber onde traçar a linha limítrofe não significa que
não saibamos o suficiente, agora mesmo, para ter absoluta certeza de que temos
a obrigação moral de não comer animais nem usá-los para roupa, sapato, etc., e que o veganismo deve
ser a base moral de um movimento que busque justiça para os animais não
humanos.
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Se você não for vegano(a), por favor torne-se vegano(a). Veganismo é não
violência. Sobretudo, é não cometer violência contra os outros seres
sencientes. Mas também é não cometer violência contra a Terra e contra si mesmo.
Gary L. Francione
Professor, Rutgers University
© 2012 Gary L. Francione
Tradução: Regina Rheda
Postscriptum – 13 de julho de 2012
Várias pessoas me escreveram para perguntar se considero que comer
amêijoas seja vegano, depois de verem o vídeo que linquei acima.
Não, eu não considero que consumir esses animais não humanos seja
coerente com ser vegano.
No caso das plantas, podemos ter tanta certeza sobre a não senciência
quanto sobre qualquer coisa. No caso
das amêijoas, ostras, etc., não se
tem certeza sobre a senciência e, portanto, me parece que faz um bom sentido,
em termos morais, presumir a favor da senciência e contra a exploração. E há
outros moluscos (cefalópodes, tais como a lula, o polvo, etc.) que são mais
desenvolvidos neurologicamente e nos quais a senciência está claramente presente.
Portanto considero que é uma questão de bom senso moral presumir a favor da
senciência das amêijoas, ostras, vieiras e todos os outros moluscos (inclusive
as lesmas), e não comê-los nem explorá-los de nenhuma outra forma como recursos
dos humanos.