quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Uma nota sobre a inteligência semelhante à humana e o valor moral

Postado por Gary L. Francione em seu blog em 2 de outubro de 2011


Com frequência vemos notícias de que os cientistas determinaram que os animais não humanos têm certas características cognitivas que associamos à inteligência humana. A implicação disso é que se os animais não humanos têm uma inteligência parecida com a dos humanos, então eles têm mais valor moral; quanto mais “inteligentes” eles forem em termos humanos, mais valiosos moralmente eles são.
Essa abordagem é problemática por várias razões:
Primeiro, não há absolutamente nenhuma relação lógica entre a posse de inteligência semelhante à humana e a moralidade de usar animais como recursos. A posse de inteligência semelhante à humana pode indicar que certos animais têm interesses que os outros animais talvez não tenham. Os grandes símios não humanos, que realmente possuem uma inteligência semelhante à humana sob muitos aspectos, podem ter interesses que cães ou peixes não têm. Mas os grandes símios não humanos, os cães e os peixes têm, todos eles, interesse em não ser tratados como recursos, simplesmente porque são sencientes, ou têm consciência subjetiva. Todos os seres sencientes têm interesse em não sofrer e em continuar a viver, e esses interesses são necessariamente frustrados se eles são tratados como recursos dos humanos.
Proclamamos que a inteligência humana é moralmente valiosa per se porque somos humanos. Se fôssemos pássaros, proclamaríamos que a habilidade de voar é moralmente valiosa per se. Se fôssemos peixes, proclamaríamos que a habilidade de viver debaixo d’água é moralmente valiosa per se. Mas, independente das nossas proclamações obviamente interesseiras, não há nada de moralmente valioso per se na inteligência humana.
Segundo, se alegamos que a inteligência semelhante à humana é moralmente relevante, então ficamos necessariamente com a ideia de que os humanos com mais inteligência são mais valiosos, moralmente, do que os humanos com menos inteligência. É verdade: podemos não tratar todos os humanos da mesma forma. Pagamos mais a um neurocirurgião do que a um faxineiro porque valorizamos mais a perícia do neurocirurgião. Mas, mesmo acreditando que essa diferença salarial seja legítima, será que diríamos que o faxineiro vale menos do que o cirurgião para o propósito de decidir quem deveria ser usado como doador forçado de órgãos, ou como participante involuntário de um experimento doloroso? Claro que não. Para o propósito de ser usado exclusivamente como recurso dos outros, ambos são iguais.
E a menos que queiramos ser especistas, devemos concluir que todos os sencientes – humanos ou não humanos – são iguais para o propósito de não ser tratados como recursos.
Terceiro, o jogo dos “inteligentes” é um jogo que os animais não humanos nunca podem ganhar. Há décadas que sabemos que os grandes símios não humanos têm uma inteligência parecida com a humana, o que não deveria surpreender, dada a semelhança genética entre os humanos e os grandes símios não humanos. Provavelmente nenhum outro animal não humano jamais exibirá maior grau de inteligência parecida com a humana. Mesmo assim, continuamos a explorar os grandes símios não humanos (e muitos outros primatas não humanos) de tudo quando é maneira.
O jogo dos “inteligentes” não passa disso – um jogo. É mais uma razão para não darmos valor moral aos animais hoje, preferindo fazer mais pesquisas tolas (e que os prejudicam) para determinar se eles podem resolver quebra-cabeças matemáticos humanos e realizar outras tarefas sem nenhuma relevância moral.
Nós já sabemos tudo que precisamos saber para concluir que não podemos justificar comer ou usar animais – que, como nós, os animais são sencientes. Eles são subjetivamente conscientes. Eles têm interesse em não sofrer e em continuar a viver.
Nada mais é necessário.
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Se você não for vegano(a), por favor considere tornar-se vegano(a). É fácil fazer isso; é melhor para a sua saúde e o planeta; e o mais importante é que é a coisa moralmente certa a fazer.
Se você for vegano(a), eduque todo mundo com que entrar em contato, de um modo criativo e não violento, sobre o veganismo.
Gary L. Francione
© 2011 Gary L. Francione
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Tradução: Regina Rheda