quinta-feira, 2 de agosto de 2012

“Pets”: os problemas inerentes à domesticação

Postado por Gary L. Francione em seu blog em 31 de julho de 2012

Na prática, simplesmente não há meio de termos uma instituição de propriedade de “pets” (ou animais “de estimação”) que seja coerente com uma teoria de direitos animais sólida. Os “pets” são propriedade e, como tal, sua valoração será, no final das contas, uma questão de o que os seus “donos” decidirem.
Mas vocês podem perguntar: “E se fosse possível? Se, em termos hipotéticos, mudássemos o status legal dos cães e gatos para que eles deixassem de ser propriedade e tivessem um status legal mais próximo ao das crianças humanas, seria moralmente justificável continuarmos a produzir cães e gatos (ou outros animais não humanos) e manter ‘pets’?”
Minha resposta a essa pergunta puramente hipotética é “não”. Não podemos justificar o perpetuamento da domesticação para o propósito de manter “pets”.
Os animais domesticados dependem de nós para tudo que é importante em suas vidas: quando e se comem ou tomam água, quando e onde dormem ou fazem suas necessidades, se recebem afeto, se se exercitam, etc. Embora alguém possa dizer o mesmo em relação às crianças humanas, em sua grande maioria elas amadurecem e se tornam seres autônomos, independentes.
Os animais domésticos não são uma parte real nem completa do nosso mundo, e nem do mundo não humano. Eles existem para sempre em um inferno de vulnerabilidades, dependentes de nós para tudo, e correndo o risco de sofrer danos por causa de um ambiente que não entendem de fato. Nós os criamos para ser obedientes e servis, ou para ter características que, na realidade, são prejudiciais para eles mas agradáveis para nós. Podemos fazê-los felizes em um certo sentido, mas o relacionamento nunca pode ser “natural” ou “normal”. Eles não pertencem ao nosso mundo, independentemente de quão bem os tratamos.
Não poderíamos justificar essa instituição, nem mesmo se ela parecesse bem diferente do que é atualmente. Minha companheira e eu vivemos com cinco cachorros resgatados, incluindo alguns que tinham problemas de saúde quando os adotamos. Nós os amamos muito e fazemos de tudo para lhes oferecer o melhor cuidado e tratamento. (E, antes que alguém pergunte, nós sete somos veganos!). Você provavelmente não acharia duas pessoas no planeta que gostem mais de viver com cachorros do que nós.
E nós dois incentivamos todas as pessoas com condições de adotar ou hospedar animais (de qualquer espécie) a fazê-lo o mais que puderem, de maneira responsável.
Mas se restassem apenas uma cadela e um cachorro no universo e dependesse de nós resolver se eles podiam procriar para que pudéssemos continuar vivendo com cães, e mesmo se pudéssemos garantir que todos eles tivessem lares tão cheios de amor como o que lhes proporcionamos, não hesitaríamos por um segundo em dar fim a toda a instituição da propriedade de “pets”.
Consideramos os cachorros que vivem conosco uma espécie de refugiados, e embora gostemos de cuidar deles, é evidente que os humanos não devem continuar trazendo essas criaturas a um mundo em que elas simplesmente não se encaixam.
Eu compreendo que muita gente ficará perplexa com minha argumentação sobre os problemas inerentes à domesticação. Mas isso é porque vivemos em um mundo onde matamos e comemos 56 bilhões de animais por ano (sem contar os peixes) e onde nossa melhor justificação para essa prática é que gostamos do sabor das carnes e outros produtos animais. A maioria de vocês que estão lendo isto agora provavelmente não é vegana. E enquanto vocês pensarem que é aceitável matar e comer animais, a argumentação mais abstrata sobre domesticar animais para usá-los como “pets” provavelmente não repercutirá. Eu entendo isso.
Então, dediquem uns poucos minutos à leitura de alguns dos muitos outros textos deste site que discutem o veganismo, como Por que o veganismo deve ser a base.
E depois reconsiderem a questão dos “pets” ou animais “de estimação”. Eu também a discuto em dois podcasts: “Animais de estimação” e Continuação do Comentário “Animais de estimação”: gatos não-veganos.
*****
Se você não for vegano(a), por favor torne-se vegano(a). Veganismo é não violência. Sobretudo, é não cometer violência contra os outros seres sencientes. Mas também é não cometer violência contra a Terra e contra si mesmo.
Se você tiver condições de adotar ou hospedar algum animal não humano, por favor faça isso. A domesticação é moralmente errada, mas esses animais estão aqui, agora, e necessitam do nosso cuidado. Suas vidas são tão importantes para eles quanto as nossas para nós.
Gary L. Francione
Professor, Rutgers University
© 2012 Gary L. Francione
Tradução: Regina Rheda