domingo, 14 de março de 2010

Sócios na exploração

Postado por Gary L. Francione em seu blog em 12 de março de 2010

Caros(as) colegas:
Fazer a sociedade se sentir mais à vontade quanto à exploração animal e encorajar o consumo são, frequentemente, um objetivo explícito das campanhas e organizações de bem-estar animal.
Por exemplo, muitos dos grupos grandes de defesa animal nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha promovem esquemas de rotulagem em que carnes ou outros produtos animais recebem um selo de aprovação. O Humane Farm Animal Care (HFAC), com seus sócios HSUS, American Society for the Prevention of Cruelty to Animals, Animal People, the World Society for the Protection of Animals e outros, promove o selo “Certified Humane Raised & Handled”, que o grupo descreve como “uma certificação ao consumidor e um programa de rotulagem” destinado a assegurar aos consumidores que os produtos com o selo, tais como “ovos, laticínios e carne de vaca ou frango foram produzidos tendo-se em mente o bem-estar do animais de fazenda”.
O HFAC enfatiza que “nos animais criados para comida, o estresse pode afetar a qualidade da carne... e a saúde geral [do animal]” e que o selo “cria uma situação em que todos saem ganhando: varejistas e restaurantes, produtores e consumidores. Para os fazendeiros, ganhar significa que eles podem conseguir um diferencial, aumentar sua participação no mercado e ter mais lucratividade por escolherem práticas mais sustentáveis”. Os varejistas também ganham porque, “na categoria secos e molhados, o comércio de alimentos naturais e orgânicos está entre os que mais cresceram nos últimos anos. Agora, comerciantes de secos e molhados, varejistas, restaurantes, operadores de serviços alimentares e produtores podem se beneficiar de oportunidades para vendas e lucros, com o selo Certified Humane Raised & Handled”.
O grupo The Humane Society International, um braço da HSUS, lançou o selo “Humane Choice” na Austrália, que ele afirma que “garantirá ao consumidor que o animal foi tratado com respeito e cuidado, desde o nascimento até a morte”. Um produto trazendo o selo “Humane Choice” assegura o seguinte ao consumidor:
O animal teve a melhor vida e a melhor morte oferecidas a qualquer animal de fazenda. Eles basicamente vivem como viveriam nas fazendas antigas, podendo satisfazer suas necessidades comportamentais, podendo pastar ou forragear e se movimentar, sem correntes nem jaulas, com livre acesso a áreas externas, com sombra no calor e abrigo no frio, uma boa dieta e uma morte humanitária.
A rede de supermercados Whole Foods Market, Inc., localizada nos Estados Unidos, Canadá e Grã-Bretanha, que a PETA premiou como o melhor varejista amigo dos animais (Best Animal-Friendly Retailer), afirma que está trabalhando “com nossos bem-informados e empolgados abastecedores de carne de vaca e de aves, e com especialistas em tratamento animal humanitário que pensam no futuro”, a fim de “não apenas melhorar a qualidade e a segurança da carne que vendemos, mas também apoiar condições de vida humanitárias para os animais”. A cadeia Whole Foods também afirma que “atualmente estão sendo desenvolvidos os padrões Animal Compassionate específicos para cada espécie, que requerem ambientes e condições que atendam às necessidades físicas, emocionais e comportamentais do animal. Os produtores que conseguirem cumprir esses padrões voluntários poderão rotular seus produtos com a designação especial ‘Animal Compassionate’”. A PETA, Peter Singer e outras organizações bem-estaristas endossaram com entusiasmo os padrões “Animal Compassionate”.
A RSPCA na Grã-Bretanha tem o selo “Freedom Food”, que é “o esquema para selos e rótulos de alimentos e para certificação de fazendas estabelecido pela RSPCA, uma das principais organizações de bem-estar animal do mundo. O esquema é uma verdadeira instituição de caridade, fundada em 1994 para aumentar o bem-estar dos animais de fazenda e oferecer aos consumidores a opção de um bem-estar superior”. A RSPCA fornece “certificação para fazendeiros, transportadores, abatedouros, processadores e frigoríficos, e o esquema aprova fazendas que forem bem administradas, sejam de animais criados soltos, de produção orgânica ou fazendas internas".
O selo Freedom Food “dá aos consumidores a garantia de que o esquema é respaldado pela RSPCA, uma das mais respeitadas instituições de caridade para com os animais no mundo”. A RSPCA dá o conselho de que os consumidores podem mostrar seu apoio ao aumento do bem-estar dos animais de fazenda e aos padrões superiores de bem-estar “escolhendo produtos com o logotipo Freedom Food”. Os produtores podem agregar valor aos seus produtos animais porque o selo Freedom Food “diferencia seu produto e pode lhes dar uma vantagem competitiva. Exibir o logotipo Freedom Food capacita os consumidores a identificar seus produtos como ‘de bem-estar superior’”. Os produtores também se beneficiam por causa do aumento das margens de lucro, do desenvolvimento de um “nicho” para os produtos “de bem-estar superior” que permitem que eles “ampliem o mercado-alvo”, e da “associação com a RSPCA, uma das mais famosas instituições de caridade de bem-estar animal no mundo”. Além disso, os produtores podem “ganhar credibilidade dentro da rede de abastecimento” e obter outros benefícios econômicos, que incluem um seguro mais barato para as fazendas, fornecido por meio da RSPCA. E a RSPCA realmente ajudará os produtores a comercializarem suas carnes e outros produtos animais: “Usamos uma variedade de ferramentas de marketing incluindo comerciais, relações públicas, website, exposições, amostras e promoções nas lojas. Também trabalhamos de perto com varejistas nacionais para desenvolver atividades promocionais conjuntas, realizar campanhas conjuntas com a RSPCA e oferecer apoio de marketing a nossos membros”.
Na minha opinião, está claro que essas corporações grandes, ligadas à defesa animal, se tornaram sócias da indústria para promover o consumo de produtos animais.
Este tópico será discutido e debatido no livro The Animal Rights Debate: Abolition or Regulation?, que eu escrevi em coautoria com o professor Robert Garner e que a Columbia University Press publicará em breve.
Gary L. Francione
© 2010 Gary L. Francione

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Tradução: Regina Rheda