domingo, 14 de novembro de 2010

Pedofilia “humanitária” e “compassiva”

Postado por Gary L. Francione em seu blog em 11 de novembro de 2010

Caros(as) colegas:
Há muitos anos que venho argumentando que se a exploração animal não pode ser justificada moralmente (e eu não acho que possa), então devemos, em termos individuais, cessar nossa participação direta na exploração animal tornando-nos veganos, e devemos, em termos sociais, promover a abolição, e não a regulamentação, da exploração animal. Argumentei, por exemplo, que nós, tendo determinado que a pedofilia é errada moralmente, não deveríamos, nem mesmo em face da presença generalizada do abuso sexual infantil em nossa sociedade, promover a pedofilia “humanitária”. Semelhantemente, não deveríamos promover a exploração animal “humanitária”. Se a exploração animal é moralmente injustificável, devemos dizer isso, e devemos dizer isso claramente. (Também argumentei que, em termos práticos, a reforma do bem-estar animal não funciona e, na realidade, é contraproducente).
Portanto, foi com considerável interesse que li sobre a reação do público à propaganda que a Amazon.com fez de um e-book, The Pedophile’s Guide to Love and Pleasure: A Child-Lover’s Code of Conduct [Guia do pedófilo para o amor e o prazer: um código de conduta do amante das crianças], que está descrito por seu autor como uma “tentativa de tornar as situações de pedofilia mais seguras para as crianças que se encontram nelas envolvidas, estabelecendo certas regras para esses adultos seguirem”. A CNN noticia:
Um e-book à venda na Amazon.com, que parece defender a pedofilia, provocou centenas de raivosos comentários de usuários, além de ameaças de boicote ao varejista on line caso ele não remova o titulo.
Cerca de 1.700 usuários que tinham comentado o título até as 9:40 da noite (no fuso ET) deploraram sua publicação e prometeram boicotar a Amazon até que ela o remova do site; o livro foi publicado pelo próprio autor. Pelo menos duas páginas foram criadas no Facebook, dedicadas a boicotar a Amazon por causa do livro.
A Amazon.com aparentemente parou de vender o livro, em consequência da indignação do público.
A reação a esse livro prova meu ponto: muito embora todos nós saibamos que a pedofilia corre solta na sociedade, e muito embora a promoção da pedofilia “humanitária” possa levar à redução do sofrimento das crianças que são vitimadas desse modo, ninguém que considere a pedofilia moralmente errada acha que deveríamos promover uma pedofilia “humanitária” ou “compassiva”.
Semelhantemente, aqueles que acreditam que a exploração animal é moralmente errada não deveriam estar fazendo campanha pela exploração “feliz” ou “compassiva”, nem promovendo rótulos ou selos de certificação de carne “feliz”. A mensagem deveria ser clara: não podemos justificar o uso de animais, por mais “humanitário” que seja o modo de usá-los. A realidade, evidentemente, é que mesmo o mais “humanitário” dos usos de animais ainda envolve o que seria considerado tortura se houvesse humanos envolvidos. Mas nenhum uso de animais, por mais “humanitário” ou “compassivo” que seja, pode ser justificado, assim como nenhuma pedofilia, por mais “humanitária” ou “compassiva” que seja, pode ser justificada.
Enquanto os defensores dos animais não reagirem contra a promoção da exploração animal “feliz” com tanta indignação quanto todos nós reagimos contra a promoção da pedofilia “feliz”, não haverá um movimento real pelos direitos animais.
Se você não for vegano(a), torne-se vegano(a). É muito fácil, melhor para a sua saúde e o planeta. E o mais importante é que é a coisa moralmente certa e justa a fazer.
Se você for vegano(a), então eduque os outros de um modo criativo e não violento.
Gary L. Francione
© 2010 Gary L. Francione
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Tradução: Regina Rheda