sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Veganismo: moralidade, saúde e ambiente

Postado por Gary L. Francione em seu blog em 3 de fevereiro de 2010

Caros(as) colegas:
Pelo menos cinco vezes por semana, eu recebo alguma versão da seguinte pergunta:
Ao argumentarmos a favor do veganismo, deveríamos ficar só com o argumento moral, e é “errado,” ou então “se vender, apoiar-se nos argumentos baseados na saúde humana e no ambiente?
Logo vou fazer um podcast sobre isso, mas já queria esclarecer um ponto: os limites entre esses argumentos não são tão claros quanto você poderia pensar, pois os argumentos baseados na saúde e no ambiente têm dimensões morais.
Quando falo em direitos animais, eu enfatizo o argumento moral baseado em uma reinterpretação da tradição filosófica ocidental. Também discuto o componente espiritual da Ahimsa  ou não-violência, que, para mim, tem sido uma parte importante do meu veganismo durante os últimos 28 anos. O componente espiritual certamente não é necessário para se chegar a uma conclusão abolicionista; eu não me apoio nisso, por exemplo, na argumentação filosófica que desenvolvo em meu livro Introduction to Animal Rights: Your Child or the Dog?. Mas meu compromisso com a não-violência é uma parte significativa do meu pensamento.
Eu também falo sobre a saúde e o ambiente como parte da análise moral/espiritual.
Temos uma obrigação moral, para conosco mesmos, de ser sadios; ingerir produtos que nos causam dano é uma forma de violência que infligimos a nós mesmos. Está cada dia mais forte a evidência empírica de que os produtos animais não são apenas desnecessários à nossa saúde; eles na verdade fazem mal aos nossos corpos de tudo quanto é modo. Até mesmo pequenas quantidades de produtos animais podem ser prejudiciais. Assim como temos a obrigação moral de não fumar cigarros (nem mesmo “só uns dois ou três”), temos a obrigação de assegurar que as coisas que pomos dentro de e sobre nossos corpos (lembre-se de que o que você põe na sua pele entra no seu corpo!) não nos causem dano. Temos essa obrigação não apenas para conosco mesmos, mas para com os animais humanos e não-humanos que nos amam e que dependem de nós.
De modo semelhante, embora eu não acredite que possamos ter obrigações morais diretamente para com os seres não sencientes, nós certamente temos uma obrigação para com todos os seres sencientes que vivem no ambiente não senciente. De fato, como há tantos seres sencientes que habitam o ambiente, é difícil ver o ambiente como não senciente sob qualquer aspecto que afete nossas obrigações morais. Uma árvore pode não ser senciente no sentido de ser perceptivamente consciente, mas há muitos seres sencientes que vivem na árvore ou que dependem da árvore. E todos os seres sencientes –humanos e não-humanos– dependem do ambiente para um ecossistema sadio. A destruição do ambiente suscita muitas questões morais e espirituais sérias. Uma produção de alimentos baseada em animais está destruindo o ambiente e todos os seres sencientes que estão nele.
Uma objeção comum ao veganismo é que se todos nós tivéssemos uma dieta baseada em plantas, teríamos de cultivar mais terra, e isso resultaria em matarmos mais não-humanos sencientes. Mas isso não é verdadeiro. Atualmente, destinamos a maior parte dos alimentos baseados em plantas à alimentação dos animais, que precisam de quilos e quilos de proteína vegetal para produzir um quilo de carne. Se comêssemos as plantas diretamente, precisaríamos de menos plantas e não necessitaríamos destruir ecossistemas a fim de poder ter mais área para pastagem.
Então, no fim, embora eu afirme que o argumento moral a favor dos direitos animais e o argumento espiritual a favor da não-violência sejam as noções mais importantes, nós também temos a obrigação moral para conosco mesmos (e para com os humanos e não-humanos que dependem de nós) de manter e melhorar nossa saúde, e a obrigação para com os humanos e os não-humanos de não destruir o ambiente.
Como eu disse no início, logo vou fazer um podcast. Mas tenho de terminar a etapa final do meu próximo livro, The Animal Rights Debate: Abolition or Regulation?, que a Columbia University Press vai publicar em maio. Então eu talvez não escreva tanto no blog, mas devo terminar aquilo logo e voltar a todo vapor.
Então, se você não for vegano(a), torne-se vegano(a). É realmente fácil. É melhor para a nossa saúde. É melhor para o planeta. Mas o mais importante é que é a coisa moralmente certa a fazer. Todos nós dizemos que rejeitamos a violência. Vamos levar a sério o que dizemos. Vamos dar um passo importante para reduzir a violência no mundo, começando com o que pomos na nossa boca e no nosso corpo.
E lembre-se, não é uma impossibilidade: O MUNDO É VEGANO! Se você quiser.
Gary L. Francione
© 2010 Gary L. Francione

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Tradução: Regina Rheda