domingo, 19 de setembro de 2010

Anúncio importante: Sexta-feira sem peixes pequenos de criação intensiva

Postado por Gary L. Francione em seu blog em 17 de setembro de 2010

Caros(as) colegas:
O dia de hoje marca o início de uma nova e importante campanha em prol dos animais:
Sexta-feira sem peixes pequenos de criação intensiva
O objetivo da campanha é incentivar as pessoas a não comerem, na sexta-feira, peixes criados em fazendas intensivas, e, em vez disso, consumirem outros produtos animais, para criar consciência no público quanto à má situação dos peixes pequenos produzidos em fazendas intensivas.
Por que peixe?
Embora seja verdade que todos os animais sofrem e o sofrimento de cada animal é o sofrimento dele ou dela, e é algo que ele/a não quer experienciar, e embora não possamos, sem tomar as questões morais como resolvidas, classificar o sofrimento de um animal como mais importante ou menos importante do que o de outro, decidimos focar apenas nos peixes e em nenhum outro animal, e propor que não se coma peixe de fazenda intensiva, em vez de propor o veganismo.
Fizemos isso por uma razão simples: o público simplesmente não é inteligente o bastante, ou não está emocionalmente preparado, para se confrontar com o fato de que todos os seres sencientes são... bem... sencientes. Isto é, os seres sencientes, em virtude de serem sencientes, não querem experienciar dor, sofrimento, aflição e outros estados negativos. Portanto, embora nesse sentido todos os seres sencientes sejam indistinguíveis no plano moral, nós decidimos fazer uma distinção reconhecidamente indefensável entre o peixe e outros animais não humanos porque precisamos trazer o público gradualmente para dentro disso tudo. A verdade poderia chocar o público, poderia sobrecarregar sua capacidade cognitiva, então decidimos que era melhor fazer de conta que comer peixe é moralmente distinguível de comer outros produtos animais, ou vestir ou usar produtos animais.
Esta campanha de vanguarda, focada em peixes pequenos criados em fazendas intensivas, é realmente uma campanha de “porta de entrada”, parte de uma estratégia geral que visa propor, eventualmente, o veganismo como base moral. Baseados nas atuais circunstâncias, faremos isso daqui a mais ou menos quatro séculos, mas teremos de ir bem devagar mesmo então. Agora estamos planejando anunciar as “Quintas-feiras sem peixes pequenos de criação intensiva” em algum dia do ano de 2020. Uma revolução começa com o primeiro passo!
As pessoas não vão virar veganas de um dia para o outro, vocês sabem. E nós estamos fazendo todo o possível para assegurar que mais pessoas não virem veganas, ao caracterizarmos constantemente o veganismo como difícil e ao tomarmos o cuidado de não promovê-lo como um princípio ou base moral. Devemos ser práticos, e não simplesmente ideológicos.
Devemos lembrar que muitos dentre nós não viraram veganos durante anos porque os grupos de defesa animal com os quais estávamos envolvidos nos diziam que era moralmente aceitável comer diversos produtos animais. É importante que esses erros sejam repetidos muitas vezes, senão todos os nossos erros terão sido em vão. Em vez de reconhecer que não há nenhuma distinção moral coerente entre a carne e os laticínios ou outros produtos animais, devemos continuar perpetuando a fantasia de que o vegetarianismo é uma postura moral significativa. Seria errado promover a posição de que todo uso de animais é injustificável e que o veganismo é a base moral, e, desse modo, dar às pessoas algo a que aspirarem, independentemente de onde elas estejam em um dado momento e do fato de elas estarem ou não preparadas para virar veganas na mesma hora. Em vez disso, devemos dizer que os padrões aquém do veganismo são OK, para fazê-las se sentir bem. Devemos dar nosso selo de aprovação ao consumo de vários produtos animais.
Embora tratemos temas de direitos humanos fundamentais como questões que têm uma resposta moralmente correta e incorreta (ninguém diz que a condição moral da escravidão, do estupro ou do abuso sexual infantil é uma questão de opinião), devemos sempre fingir que as questões da ética animal são simplesmente questões de escolha de estilo de vida, ou de preferência, ou de mera opinião, sem mais importância moral do que a escolha de um lugar para a gente passar as férias ou que tipo de música a gente aprecia. Devemos adotar o “flexitarianismo”, senão vamos parecer rígidos demais e correr o risco de ser considerados “fanáticos” pelas pessoas. É importante nunca caracterizar o veganismo como a base moral, como aquilo que devemos aos animais não humanos; é importante nunca ser honesto ou dizer francamente que não podemos justificar nosso consumo de qualquer produto animal que seja. Os humanos merecem justiça; os animais ganham apenas nossa misericórdia ou compaixão.
Por que peixes pequenos?
Boa pergunta! Decidimos focar nos peixes pequenos porque a maioria das pessoas não acha que peixe é um animal fofinho, então pensamos que elas talvez achem os peixes pequenos mais fofinhos do que os grandes. E, sendo defensores dos direitos animais, estamos muito cientes do velho ditado: “animal fofinho vende campanhas”. Pensando bem, a maioria das campanhas de um só tema se concentra em animais que nós, humanos, achamos atraentes, sejam eles filhotes de foca, ou elefantes, golfinhos, filhotes de cachorro, bezerrinhos, lobos, etc. Somente fomos levantar campanhas bem-estaristas de um só tema envolvendo porcos quando o filme Babe apareceu e deu pontos para a fofura dos porcos e outros animais de fazenda.
Embora não haja nenhuma distinção moralmente significativa entre um peixe grande e um pequeno (ou entre um peixe e uma vaca, etc.), pensamos com muito cuidado sobre essa questão e decidimos que o público simplesmente não estava pronto para lidar com a ideia de que não devemos comer nenhum peixe (ou nenhum produto animal), então resolvemos ir com calma e focar a atenção do público apenas em peixes pequenos e mais fofinhos. E depois do Finding Nemo, há mais pessoas achando que os peixes pequenos são fofinhos. Devemos alcançar as pessoas indo até onde elas estão.
Lembrem-se, temos de fazer isso passo a passo. O veganismo é extremamente difícil. Os grupos grandes vivem repetindo isso, portanto deve estar certo e não devemos discordar. Como podemos sequer pensar que as pessoas vão achar absolutamente deliciosos todos os maravilhosos alimentos veganos disponíveis hoje em dia? Como podemos sequer esperar que as pessoas levem a moralidade a sério?
Por que peixes pequenos criados em fazendas intensivas?
A resposta é fácil. Há três razões.
Primeiro, Peter Singer, o pai do movimento, deixou claro que os não humanos, diferentemente dos humanos, não têm a capacidade cognitiva tão sofisticada quanto a nossa, e o resultado disso é que eles não têm interesse em continuar a viver. Eles não têm o senso de ter uma vida, e suas vidas têm um valor menor em termos morais. Os animais não ligam para o fato de que os usamos e comemos; eles só ligam para o modo como os usamos. Eles só se importam em não sofrer demais e em ser mortos de um modo relativamente indolor, mas não ligam para continuar a viver.
Agora: os peixes estão bem lá embaixo, naquela escala cognitiva, segundo os bem-estaristas, e o resultado é que eles não ganham muitos pontos na escala que mede “quão próximo seu sentido de autoconsciência está daquele do humano adulto normal”. Portanto o problema não é comê-los, em si; o problema é fazê-los sofrer. Podemos nos dar o “luxo” de comer peixe, se o peixe tiver sido criado e morto de modo “humanitário”.
Segundo, ao focar nos peixes pequenos criados em fazendas intensivas, garantimos toda sorte de “vitórias” insignificantes que deixarão as pessoas mais tranquilas quanto a consumirem peixes pequenos “felizes”. Estamos tentando convencer Temple Grandin, que foi premiada pela PETA, a projetar novas instalações para matar peixes; e o supermercado Whole Foods, que foi premiado pela PETA, vende muitos corpos de peixes mortos e coloca cartazes dizendo que eles são “peixes selvagens” capturados em seu ambiente natural. Então as coisas já estão começando a mudar para os peixes! Já há vitórias! E é só uma questão de tempo para que todas as corporações grandes de bem-estar animal coloquem selos de “peixe morto feliz” em cadáveres de peixes. O resultado desses selos será mais dinheiro entrando nos cofres dessas corporações. Imaginem quanto o “peixe feliz” fará para ajudar os animais!
Terceiro, e mais uma vez, nós acreditamos que o público ainda não está pronto para lidar com a ideia de não comer todos os peixes pequenos. Estamos propondo meramente que eles não comam peixes pequenos criados em fazendas intensivas. O público não tem a inteligência que nós temos. Nós podemos achar os argumentos pró veganismo muito fáceis de entender, mas a maioria das pessoas tem a cabeça tão dura que nem dá para imaginar.
Sabemos que alguns defensores dos animais criticarão esta campanha e proporão que deveríamos estar educando o público sobre o veganismo; que deveríamos estar mudando o paradigma, afastando o discurso do tratamento e direcionando-o para o uso. Esses críticos são meros elitistas divisionistas que não reconhecem que o público é inacreditavelmente imbecil. Esses críticos não sabem reconhecer que a divergência racional é divisionista. Esses críticos não têm ideia do quanto esta campanha é vanguardista. Foi só em abril deste ano que a HSUS anunciou uma campanha para salvar focas fofinhas por meio do boicote aos peixes e frutos do mar canadenses e do consumo de peixes capturados e comercializados por outros países. E a HSUS nem sequer distinguiu peixes pequenos de grandes! Nossa campanha vai muito, muito além disso, pelo menos nas sextas-feiras. Embora não estejamos promovendo o boicote a todos os peixes e frutos do mar canadenses, estamos promovendo um boicote aos peixes pequenos de todos os países nas sextas-feiras. Estamos pedindo formalmente à HSUS que mude sua campanha e passe a promover o boicote aos peixes pequenos canadenses e também aos peixes pequenos de todos os outros países, mas apenas na sexta-feira porque não queremos ser radicais demais.
Embora seja verdade que muita gente vai comer apenas carne de vaca, ovo e sorvete em vez de peixe, ou talvez coma peixe “selvagem” vendido por um comerciante de peixe morto “feliz”, nós temos de fazer alguma coisa agora para ajudar os animais, e esta é a melhor coisa que conseguimos pensar.
Por fim, achamos que esta campanha realmente vai pegar porque as pessoas vão ter de fazer muito pouco em termos de mudar de verdade as coisas. Podemos lhes mostrar como elas podem ser “defensoras dos direitos animais” fazendo apenas isto: se abstendo de peixes pequenos de criação intensiva na sexta-feira. Elas vão se sentir tão bondosas que vão assinar um cheque para mandar a um dos grupos grandes de defesa animal. Outra vitória! E daqui a uma década conseguiremos fazê-las focarem em não comer peixes pequenos de criação intensiva na quinta-feira. E daqui a duas décadas conseguiremos fazê-las focarem nas quartas-feiras. E assim por diante. Depois focaremos em peixes de tamanho médio de criação intensiva. E o público nunca vai se dar conta. Somos tão inteligentes!
Portanto, pelos animais, por favor apoiem nossa campanha de vanguarda para ajudar o público mental e emocionalmente limitado a entender a verdade moral que apenas alguns dentre nós conseguem entender. Sim, sabemos que aqueles dentre vocês que são verdadeiramente elitistas e divisionistas vão querer ficar agarrados ao veganismo como princípio ou base moral. Para eles, dizemos: “Dane-se o princípio”.
*****
Francamente, eu não consigo entender o pensamento das pessoas que  defendem coisas como a Segunda-feira sem carne. Essas campanhas fazem distinções onde não há nenhuma, encorajam os outros a consumirem produtos animais em geral e supõem que o público é incapaz de entender uma ideia simples. Para conhecerem algumas ideias sobre como falar sobre veganismo com não veganos, ouçam meu recente Comentário sobre o assunto.
Os defensores dos animais que de fato se opõem a todo uso de animais não deveriam estar propondo o vegetarianismo (ou qualquer situação que fique aquém do veganismo) como um passo na direção do veganismo. Em primeiro lugar, todos nós conhecemos muitas pessoas que têm sido vegetarianas durante décadas e nunca viraram veganas, então, em termos empíricos, não está claro, de jeito nenhum, que o vegetarianismo seja algum tipo de passo transicional. Segundo, os vegetarianos tendem a comer mais laticínios e outros produtos animais quando desistem da carne. Esses outros produtos animais causam tanto sofrimento e tanta morte aos animais quanto a carne, se é que não causam mais ainda. Então, em termos de volume de sofrimento animal, uma dieta vegetariana com muito laticínio, ovo, etc. pode não ser melhor.
O argumento de que o público acha o veganismo difícil é uma profecia autocumprida: as organizações grandes de defesa animal são as piores ofensoras, reforçando constantemente a noção de que o veganismo é difícil e requer um sacrifício e uma força de vontade hercúleos. E mesmo se o público achar o veganismo difícil, isso não quer dizer que nossa mensagem deve mudar. Vivemos num mundo onde ainda existe muito racismo; as pessoas acham difícil parar de tomar decisões quanto à inclusão na comunidade moral baseadas na cor da pele. Isso quer dizer que devemos parar de promover a mensagem de que todo racismo é moralmente injustificável? Claro que não.
Devemos sempre deixar claro como a água que não podemos justificar o nosso consumo ou uso de produtos animais, quaisquer que sejam esses produtos. Se uma pessoa decide não se abster completamente, ou pelo menos não no começo, então deixe que isso seja a escolha dela, e não o resultado de pormos um selo de aprovação em algo aquém do veganismo. Nunca faríamos isso ao tratar de questões de direitos humanos fundamentais; o fato de fazermos isso no contexto dos animais é nada mais, nada menos que especismo.
Para mais discussão sobre as questões abordadas aqui, vejam os ensaios 1, 2, 3; e ouçam este Comentário sobre o vegetarianismo como uma suposta “porta de entrada” para o veganismo.
A luta pelos direitos animais não é simplesmente uma questão de compaixão; sim, devemos ter empatia para com o outro não humano. Mas “direitos animais” é muito mais do que isso: é a postura de que não podemos justificar a exploração dos animais não humanos, por mais “humanitária” ou “compassiva” que seja nossa exploração. Os direitos animais, em seu cerne, são uma questão de justiça.
Então façam de todo dia um “Dia sem produtos animais”. Tornem-se veganos(as). É fácil. É melhor para sua saúde e o planeta. Mas o mais importante de tudo é que é a coisa moralmente certa e justa a fazer.
Gary L. Francione
© 2010 Gary L. Francione
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Tradução: Regina Rheda

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Comentário nº 19: falando com não veganos sobre veganismo: 5 princípios

Postado por Gary L. Francione em seu blog/podcast em 14 de setembro de 2010

Caros(as) colegas:
Neste Comentário, eu trato de um assunto que vários de vocês me pediram para cobrir: como conversar com não veganos sobre veganismo?
Apresento cinco princípios gerais:
Princípio nº 1: No fundo as pessoas são boas.
Quando falarmos com as pessoas, nossa posição automática tem de ser que elas são boas e interessadas em, ou educáveis sobre, questões morais. Há uma tendência, entre ao menos alguns defensores dos animais, a ter uma visão muito misantrópica dos outros humanos e a encará-los como inerentemente imorais ou desinteressados por questões de moralidade. Eu discordo dessa visão.
Princípio nº 2: As pessoas não são idiotas.
Há uma tendência, entre os defensores dos animais, a crer que o público em geral não é capaz de entender os argumentos a favor do veganismo e que devemos “ir com calma”, e, em vez de falar sobre veganismo, devemos falar sobre vegetarianismo. “Segunda feira sem carne”, carnes e outros produtos animais “felizes”, etc. Eu discordo desse modo de pensar tão elitista sobre as outras pessoas. Não há mistério; não há nada complicado. As pessoas podem entender, se ensinarmos com eficácia.
Princípio nº 3: Não fique na defensiva; responda, não reaja.
Sim, algumas pessoas vão tentar nos provocar, ou vão fazer perguntas ou comentários que consideramos ofensivos ou sem seriedade. Se uma pessoa realmente não está interessada no que estamos falando, ela geralmente vai embora. Encare toda observação e toda pergunta — mesmo a que você achar desagradável, rude ou sarcástica — como um  convite feito a você por alguém que está mais provocado (no sentido positivo) por você, e mais envolvido, do que você imagina.
Princípio nº 4: Não se sinta frustrado. Educar é tarefa árdua.
Vão lhe fazer a mesma pergunta muitas vezes; vão lhe fazer perguntas que indicam que você deve começar tudo de novo com alguém. Mas se você quiser ser um educador eficiente, precisa responder toda pergunta como se nunca a tivesse ouvido antes. Se quiser que os outros fiquem entusiasmados com a sua mensagem, você precisa estar entusiasmado com ela primeiro.
Princípio nº 5: Aprenda os fundamentos. Antes de virar professor, você precisa ser estudante.
Muitos defensores dos animais ficam animados com o veganismo abolicionista e a primeira coisa que fazem é criar um website ou um blog que, embora motivado pelos sentimentos certos, não é informado por ideias claras. Antes de você ensinar os outros, aprenda os fundamentos. Aproveite a disponibilidade de recursos veganos abolicionistas como os vídeos, os panfletos e outros materiais deste site, além de materiais disponíveis em outros sites abolicionistas como o animalemacipation.com e o da Boston Vegan Association.
O triste é que os maiores obstáculos à educação vegana são os grupos neobem-estaristas grandes, que entraram em sociedade com os exploradores institucionais de animais para promover o consumo de produtos animais, dando à exploração animal, em diversas formas, a “aprovação dos direitos animais” (ver, por exemplo, 1, 2).
Esses grupos neobem-estaristas (ou novos bem-estaristas) são parte do problema; eles não são parte da solução.
Espero que vocês achem este Comentário útil. Como indico, ficarei feliz em fazer outros Comentários em podcasts futuros, tratando de mais questões relacionadas ao ativismo vegano, dependendo do feedback que eu receber sobre este Comentário.
Tornem-se veganos(as). É fácil. É melhor para sua saúde e o planeta. Mas o mais importante de tudo é que é a coisa moralmente certa e justa a fazer.
Gary L. Francione
© 2010 Gary L. Francione
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Tradução: Regina Rheda

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Resposta a George Monbiot

Postado por Gary L. Francione em seu blog em 7 de setembro de 2010

Caros(as) colegas:
O colunista do Guardian UK, George Monbiot, que havia expressado apoio ao veganismo, renegou seu apoio e, num editorial intitulado I was wrong about veganism. Let them eat meat – but farm it properly [Eu estava errado sobre o veganismo. Vamos deixá-los comer carne – mas de animais criados direito], ele embarca na caravana da carne “feliz”.
Escrevi um breve comentário, que foi postado no website do Guardian:
Caro Sr. Monbiot:
Tenho três comentários:
Primeiro, sem levar em conta se Fairlie está mesmo correto a respeito das questões ambientais, você ainda está ignorando um ponto fundamental: o consumo de carnes e outros produtos animais não pode ser justificado em termos morais, independentemente de considerações ambientais. Pense nisto. Todos nós concordamos que infligir sofrimento e morte desnecessários a seres sencientes é moralmente errado.  Podemos discutir sobre o que “necessidade” significa, mas, se é que significa alguma coisa, deve significar que não podemos infligir sofrimento e morte por motivos de prazer, divertimento ou conveniência. Mas esses são os únicos argumentos que existem a favor de consumir produtos animais. Ninguém sustenta que comer produtos animais é necessário à saúde humana (pelo contrário), e a produção de animais para consumo continua sendo um significativo problema ecológico, mesmo se Fairlie estiver correto. A única justificativa que temos para infligir dor, sofrimento e morte a 56 bilhões de animais (sem contar os peixes) é que eles são saborosos e nós apreciamos comê-los.
Se isso constituir uma justificativa moral, então os animais não têm valor moral e devemos simplesmente reconhecer que eles estão completamente fora da comunidade moral, em vez de afirmar, hipocritamente, um princípio moral a respeito de sofrimento e morte desnecessários que não significa absolutamente nada.
Segundo, eu ainda tenho de ler o livro de Fairlie, mas a sua descrição dos argumentos ambientais dele dá a impressão de que a análise que ele faz dos problemas é, na melhor das hipóteses, questionável.
Terceiro, sua posição de que temos de tornar a produção animal mais “humanitária” é inacreditavelmente ingênua. Os animais são propriedade; eles são mercadorias. Eles não têm valor inerente. As reformas do bem-estar animal oferecem muito pouca proteção aos interesses dos animais e, se você examinasse a história dessas reformas, você veria que, em sua maioria, elas fazem pouca coisa além de tornar a produção animal mais eficiente em termos econômicos. São reformas que a indústria teria implementado, de todo jeito. Considere o processo de abandonar as baias para vitelos. As baias para vitelos aumentam o estresse dos animais e resultam em custos veterinários mais altos; as unidades com grupos pequenos diminuem os custos e não rebaixam a qualidade da carne. A mesma análise serve de apoio ao processo de abandonar as celas de gestação para porcas, à adoção do abate de aves com atmosfera controlada, etc.
As ineficiências econômicas da criação intensiva, que se desenvolveu nos anos 1950s, estão ficando cada vez mais evidentes. Haverá mudanças nas fazendas e granjas industriais, e pode-se argumentar que algumas dessas mudanças talvez ofereçam um benefício marginal aos animais em termos de bem-estar. Mas isso é tudo que vai acontecer. Grupos grandes de defesa animal nos Estados Unidos e no Reino Unido, que ganham milhões às custas de promover essas reformas inevitáveis, transformam essas pequenas mudanças em grandes campanhas a favor do tratamento “humanitário” e levam as pessoas a pensarem que as coisas estão progredindo.
Os padrões de bem-estar animal poderiam ser muito melhores? Claro que sim – em teoria. Mas qualquer abandono significativo da prática da criação intensiva significaria custos muito mais altos e, dada a realidade dos mercados globais e a incapacidade de se impedir a importação de produtos que envolvem um padrão mais baixo de bem-estar, simplesmente não é realista. Além do mais, se os consumidores (ou melhor, aqueles consumidores ricos que poderiam comprar esse tipo de produto) se importassem o suficiente para pagar pelos custos muito mais altos que estariam envolvidos, eles provavelmente se importariam o suficiente com os animais, como questão moral, para não os comerem de jeito nenhum.
Em todo caso, mesmo se os padrões de bem-estar aumentassem dramaticamente, o tratamento que damos aos animais continuaria representando tortura se fosse dado a seres humanos. Simular o afogamento de uma pessoa amarrada a uma prancha acolchoada é um pouquinho melhor do que usar uma prancha dura, mas continua sendo tortura.
Não há nenhum modo de criar animais para o consumo de bilhões de pessoas (mesmo se elas consumirem menos produtos animais) sem infligir tortura aos animais. Estou perplexo com o fato de você aparentemente pensar o contrário e embarcar na caravana das “carnes/produtos animais felizes”.
Obrigado por sua consideração por meus comentários.
Gary L. Francione - Professor, Rutgers University - Newark, New Jersey. www.abolitionistapproach.com
*****
É triste ver um progressista como George Monbiot acreditar nesse absurdo reacionário bem-estarista.
Gary L. Francione
© 2010 Gary L. Francione
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Tradução: Regina Rheda

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Ingrid Newkirk sobre o veganismo baseado em princípio: “Dane-se o princípio”

Postado por Gary L. Francione em seu blog em 5 de setembro de 2010

Caros(as) colegas:
Em um artigo na Time Magazine, a cofundadora da PETA, Ingrid Newkirk, discute o “flexitarianismo” ou “vegetarianismo de meio período”.
O objetivo de muitos ativistas é simplesmente convencer mais pessoas a comerem menos carne. “Os puristas absolutos deveriam estar vivendo em uma caverna”, diz Ingrid Newkirk, presidente da organização People for the Ethical Treatment of Animals (PETA). “Qualquer pessoa que testemunhe o sofrimento dos animais e tenha um fio de esperança de reduzir esse sofrimento não pode ter a posição do ‘ou tudo ou nada’. Temos de ser pragmáticos. Dane-se o princípio”.
Podemos fazer várias observações sobre as declarações de Newkirk:
Primeiro, Newkirk repete o mantra do movimento neobem-estarista (ou novo bem-estarista): o de que as reformas do bem-estar realmente reduzem o sofrimento. As reformas que são promovidas pela PETA e os outros grupos neobem-estaristas geralmente não oferecem benefícios significativos aos animais em termos de bem-estar. Elas apenas representam uma forma diferente de tortura. Simular o afogamento de uma pessoa amarrada sobre uma prancha dura é tortura, e simular o afogamento dessa pessoa amarrada sobre uma prancha acolchoada continua sendo tortura.
Além do mais, em geral a indústria acabaria adotando essas reformas de qualquer maneira, porque elas normalmente aumentam a eficiência da produção. Dar um pouquinho mais de espaço aos vitelos ou usar alternativas às celas de gestação resultam num aumento da produção de animais, na redução dos custos veterinários e em mais lucro para os produtores. A PETA reconhece explicitamente que asfixiar aves com gás é uma coisa economicamente eficiente a se fazer. A relação simbiótica entre os grupos grandes de defesa animal e os exploradores institucionais fica clara quando vemos que grupos como a PETA e os exploradores institucionais estão fazendo um teatro onde os defensores dos animais dirigem seus ataques a uma prática economicamente vulnerável; a indústria reage com uma luta mínima e simbólica; a reforma, ou alguma modificação da reforma, é eventualmente aceita porque não prejudica (e normalmente ajuda) a indústria; os grupos de defesa animal declaram vitória; os exploradores de animais desfrutam dos elogios que a indústria recebe dos defensores dos animais. Só os animais é que saem perdendo.
Segundo, Newkirk convenientemente ignora que a obstinada promoção dessas reformas do bem-estar pela PETA e outros grupos neobem-estaristas, e as alegações de que essas reformas tornam a exploração mais “humanitária”, fazem o público se sentir mais à vontade quanto a consumir animais e, como resultado, o consumo aumenta. É interessante notar que o consumo per capita de produtos animais está subindo, não descendo. Quando grupos como a PETA dão um prêmio à projetista de matadouros Temple Grandin, ou elogiam comerciantes de carnes e outros produtos animais, ou suspendem o boicote ao KFC no Canadá porque o KFC concordou em passar gradualmente a comprar frangos asfixiados dos produtores, o que isso diz ao público? É um grande selo de aprovação fornecido pelos “direitos animais”.
Graças à PETA, agora as pessoas que comem no KFC no Canadá ou no McDonald’s, ou que compram carnes ou outros produtos animais “felizes” no Whole Foods, podem se autoproclamar defensoras dos “direitos animais”.
Teria de ficar cada vez mais claro que o movimento a favor das “carnes/produtos animais felizes” é um gigantesco passo para trás.
Terceiro, Newkirk convenientemente ignora o ponto mais importante do debate sobre se devemos defender uma base moral vegana clara ou se, em vez disso, devemos  defender reformas bem-estaristas.
Trata-se de um jogo de soma zero. Quer dizer, vivemos num mundo onde os recursos são limitados. Cada centavo, cada segundo, cada esforço que dedicamos às reformas do bem-estar é menos dinheiro, menos tempo e menos esforço que dedicamos à defesa clara e inequívoca do veganismo. Se as grandes corporações neobem-estaristas empregassem todos seus recursos na promoção do veganismo, elas poderiam reduzir o sofrimento e a morte, ao reduzir a demanda e ao ajudar a desviar o paradigma da noção de que os animais são coisas que podemos usar se os tratarmos de modo “humanitário” para a noção de que os animais são seres com valor moral inerente que não deveríamos estar usando de jeito nenhum.
Considere o seguinte exemplo: você dispõe de uma hora, hoje, para gastar na defesa dos animais. Você deveria gastar essa hora educando as pessoas a comerem ovos de aves livres de gaiolas, ou a não comerem ovos (ou produtos animais) de jeito nenhum? Você não pode fazer as duas coisas e, dentro da medida em que você diz às pessoas — como fazem essas organizações — que elas podem satisfazer suas obrigações morais para com os animais comendo ovos de aves livres de gaiola ou outros produtos animais “felizes”, você essencialmente garante que o melhor que vai acontecer é que as pessoas optarão por uma forma diferente de tortura, em vez de optarem pela não-tortura.
A escolha não é, como Newkirk sugere, entre reduzir o sofrimento ou promover o veganismo. É somente promovendo o veganismo — trabalhando com o elemento demanda da equação, em vez de trabalhar com a oferta (o foco das reformas bem-estaristas) — que reduziremos o sofrimento e a morte.
Um ponto relacionado a esse é que não é apenas o sofrimento que importa, como Newkirk sugere; matar também importa. Newkirk aparentemente acredita na visão de Peter Singer de que os animais, em sua maioria, não têm interesse em continuar a viver mas têm interesse somente em não sofrer. Eu rejeito essa visão como questão factual. Negar que qualquer ser senciente tenha interesse em continuar a viver — isto é, que todos os seres sencientes prefiram, ou queiram, ou desejem continuar a viver — é absurdo. A posição bem-estarista, que Newkirk e Singer aceitam, é que a vida animal, em si, não tem valor moral. Isso pode explicar por que a PETA mata a maioria dos animais que ela acolhe em suas instalações em Norfolk. Em todo caso, eu rejeito essa visão porque ela é especista.
Enquanto a questão for como tratamos os animais, enquanto pensarmos que temos justificativa para explorá-los contanto que os tratemos de modo “humanitário”, e não que não podemos justificar a exploração animal por mais “humanitária” que ela seja, o paradigma não vai mudar.
Quarto, eu compreendo por que empresas de exploração animal como a PETA promovem princípios “flexitarianos” e são hostis ao veganismo. Elas querem o maior número de doadores possível. Segundo um executivo da PETA, a metade dos membros da PETA não é nem vegetariana. Se você quer que essas pessoas lhe deem dinheiro e o ponham em seus testamentos, você precisa fazê-las se sentir bem quanto ao fato de continuarem a explorar os animais. Se você quer badalar com as celebridades de Hollywood e outras pessoas famosas que consomem animais, você não pode ter uma política vegana clara. Então, em vez disso, você tem uma postura que inclui todo mundo, mas, precisamente porque não rejeita nenhum comportamento por ele ser moralmente inaceitável, essa postura não significa coisa alguma.
A esquizofrenia moral é inacreditável. A PETA rotineiramente condena exploradores institucionais de animais, mas depois não reconhece que os consumidores de produtos animais —incluindo todos aqueles membros da PETA que não são veganos — são os exploradores de animais que criam a demanda, em primeiro lugar.
Em suma, é triste que os maiores opositores do veganismo como base moral sejam os chamados defensores dos animais como Newkirk e Singer (1; 2). É angustiante quando as respostas de Newkirk ao veganismo baseado em princípio são  “Dane-se o princípio” e que aqueles que defendem o veganismo baseado em princípio “deveriam estar vivendo em uma caverna”.
É motivo de preocupação quando aqueles que gritam mais alto que o veganismo é difícil ou intimidador são os chamados defensores dos animais.
Por favor, compreendam, eu não estou questionando a sinceridade de Newkirk. Apenas acredito, sinceramente, que ela está muito, muito errada.
Se você não for vegano(a), por favor considere tornar-se vegano(a). Não acredite na falsa dicotomia entre carnes e outros produtos animais. Não há nenhuma distinção moralmente coerente entre carnes e outros produtos animais. Os animais usados para laticínios geralmente vivem mais, são tratados tão mal quanto (ou pior ainda do que) os animais criados para carne, e no fim são mortos nos mesmos horríveis matadouros que eles.
Ser vegano é fácil (apesar do que afirmam algumas organizações grandes de defesa animal); é melhor para sua saúde; é melhor para o planeta; e o mais importante de tudo é que é a coisa moralmente certa a fazer. Veganismo não é uma questão de compaixão ou misericórdia; é uma questão de justiça fundamental.
O veganismo é o mínimo que devemos aos não-humanos sencientes.
Gary L. Francione
© 2010 Gary L. Francione
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Tradução: Regina Rheda

domingo, 5 de setembro de 2010

Comentário nº 18: Um passo para trás, a importância do veganismo e o uso errado da palavra “abolição”

Postado por Gary L. Francione em seu blog/podcast em 4 de setembro de 2010

Caros(as) colegas:
Neste Comentário, discuto alguns tópicos.
Primeiro, falo sobre o anúncio do grupo neobem-estarista Mercy for Animals de que a gigantesca empresa varejista Costco deu um “passo adiante”, ao concordar em comercializar vitela produzida de modo “humanitário”. Afirmo que haver defensores dos animais elogiando isso como se fosse um “passo adiante” e caracterizar a ingestão da vitela (em vez de todos os produtos animais) como uma questão importante são um passo para trás.
Segundo, discuto o argumento, defendido por certas organizações grandes,  de que como não podemos evitar completamente os produtos animais, o princípio moral de que devemos aderir ao veganismo não passa de uma artificial “pureza pessoal”.
Finalmente falo sobre o uso errado da palavra “abolição” por parte daqueles que defendem as reformas bem-estaristas e  a violência.
Também discuto brevemente o workshop abolicionista que fizemos na Rutgers no final de maio e o meu novo livro, The Animal Rights Debate: Abolition or Regulation?, que está sendo publicado pela Columbia University Press.
Espero que gostem do Comentário.
Gary L. Francione
© Gary L. Francione
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Tradução: Regina Rheda

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Neste domingo, 22 de agosto, no Animals Today Radio com a Dra. Lori Kirshner

Postado por Gary L. Francione em seu blog em 17 de agosto de 2010

Caros(as) colegas:
Serei entrevistado no Animals Today Radio pela Dra. Lori Kirshner neste domingo, 22 de agosto. O programa é transmitido ao vivo das 5 h às 6 h da tarde [6 h às 7 h da tarde no horário de Brasília] e ficará arquivado.
Tornem-se veganos(as). É melhor para sua saúde (comida de origem animal faz mal ao nosso organismo); é melhor para o ambiente (a produção de animais para consumo é um desastre ecológico); mas o mais importante é que é a coisa moralmente certa a fazer.

Gary L. Francione
© Gary L. Francione
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Tradução: Regina Rheda

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Comentário: discussão com Ronnie Lee e Roger Yates

Postado por Gary L. Francione em seu blog/podcast em 2 de maio de 2010

Caros(as) colegas:
Neste Comentário, tenho dois convidados: Ronnie Lee, que fundou a Band of Mercy em 1972 e a Animal Liberation Front em 1976, e o Dr. Roger Yates, que leciona sociologia na University College, em Dublin, e na University of Wales em Bangor.
Como vocês já sabem, eu me oponho a toda violência e não apoio a ação direta militante. Esse é o ponto de partida da minha discussão com Ronnie e Roger, mas também vamos falar sobre uma variedade de tópicos. E estamos todos de acordo quanto à importância da educação vegana não-violenta criativa.
Espero que vocês gostem do Comentário.
E por falar nisso:
Tornem-se veganos(as). É melhor para sua saúde (comida de origem animal faz mal ao nosso organismo); é melhor para o ambiente (a produção de animais para comida é um desastre ecológico); mas o mais importante é que é a coisa moralmente certa a fazer.
Gary L. Francione
© 2010 Gary L. Francione
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Tradução: Regina Rheda