Caros(as) colegas:
O colunista do Guardian UK, George Monbiot, que havia expressado apoio ao veganismo, renegou seu apoio e, num editorial intitulado I was wrong about veganism. Let them eat meat – but farm it properly [Eu estava errado sobre o veganismo. Vamos deixá-los comer carne – mas de animais criados direito], ele embarca na caravana da carne “feliz”.
Escrevi um breve comentário, que foi postado no website do Guardian:
Caro Sr. Monbiot:
Tenho três comentários:
Primeiro, sem levar em conta se Fairlie está mesmo correto a respeito das questões ambientais, você ainda está ignorando um ponto fundamental: o consumo de carnes e outros produtos animais não pode ser justificado em termos morais, independentemente de considerações ambientais. Pense nisto. Todos nós concordamos que infligir sofrimento e morte desnecessários a seres sencientes é moralmente errado. Podemos discutir sobre o que “necessidade” significa, mas, se é que significa alguma coisa, deve significar que não podemos infligir sofrimento e morte por motivos de prazer, divertimento ou conveniência. Mas esses são os únicos argumentos que existem a favor de consumir produtos animais. Ninguém sustenta que comer produtos animais é necessário à saúde humana (pelo contrário), e a produção de animais para consumo continua sendo um significativo problema ecológico, mesmo se Fairlie estiver correto. A única justificativa que temos para infligir dor, sofrimento e morte a 56 bilhões de animais (sem contar os peixes) é que eles são saborosos e nós apreciamos comê-los.
Se isso constituir uma justificativa moral, então os animais não têm valor moral e devemos simplesmente reconhecer que eles estão completamente fora da comunidade moral, em vez de afirmar, hipocritamente, um princípio moral a respeito de sofrimento e morte desnecessários que não significa absolutamente nada.
Segundo, eu ainda tenho de ler o livro de Fairlie, mas a sua descrição dos argumentos ambientais dele dá a impressão de que a análise que ele faz dos problemas é, na melhor das hipóteses, questionável.
Terceiro, sua posição de que temos de tornar a produção animal mais “humanitária” é inacreditavelmente ingênua. Os animais são propriedade; eles são mercadorias. Eles não têm valor inerente. As reformas do bem-estar animal oferecem muito pouca proteção aos interesses dos animais e, se você examinasse a história dessas reformas, você veria que, em sua maioria, elas fazem pouca coisa além de tornar a produção animal mais eficiente em termos econômicos. São reformas que a indústria teria implementado, de todo jeito. Considere o processo de abandonar as baias para vitelos. As baias para vitelos aumentam o estresse dos animais e resultam em custos veterinários mais altos; as unidades com grupos pequenos diminuem os custos e não rebaixam a qualidade da carne. A mesma análise serve de apoio ao processo de abandonar as celas de gestação para porcas, à adoção do abate de aves com atmosfera controlada, etc.
As ineficiências econômicas da criação intensiva, que se desenvolveu nos anos 1950s, estão ficando cada vez mais evidentes. Haverá mudanças nas fazendas e granjas industriais, e pode-se argumentar que algumas dessas mudanças talvez ofereçam um benefício marginal aos animais em termos de bem-estar. Mas isso é tudo que vai acontecer. Grupos grandes de defesa animal nos Estados Unidos e no Reino Unido, que ganham milhões às custas de promover essas reformas inevitáveis, transformam essas pequenas mudanças em grandes campanhas a favor do tratamento “humanitário” e levam as pessoas a pensarem que as coisas estão progredindo.
Os padrões de bem-estar animal poderiam ser muito melhores? Claro que sim – em teoria. Mas qualquer abandono significativo da prática da criação intensiva significaria custos muito mais altos e, dada a realidade dos mercados globais e a incapacidade de se impedir a importação de produtos que envolvem um padrão mais baixo de bem-estar, simplesmente não é realista. Além do mais, se os consumidores (ou melhor, aqueles consumidores ricos que poderiam comprar esse tipo de produto) se importassem o suficiente para pagar pelos custos muito mais altos que estariam envolvidos, eles provavelmente se importariam o suficiente com os animais, como questão moral, para não os comerem de jeito nenhum.
Em todo caso, mesmo se os padrões de bem-estar aumentassem dramaticamente, o tratamento que damos aos animais continuaria representando tortura se fosse dado a seres humanos. Simular o afogamento de uma pessoa amarrada a uma prancha acolchoada é um pouquinho melhor do que usar uma prancha dura, mas continua sendo tortura.
Não há nenhum modo de criar animais para o consumo de bilhões de pessoas (mesmo se elas consumirem menos produtos animais) sem infligir tortura aos animais. Estou perplexo com o fato de você aparentemente pensar o contrário e embarcar na caravana das “carnes/produtos animais felizes”.
Obrigado por sua consideração por meus comentários.
Gary L. Francione - Professor, Rutgers University - Newark, New Jersey. www.abolitionistapproach.com
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É triste ver um progressista como George Monbiot acreditar nesse absurdo reacionário bem-estarista.
Gary L. Francione
© 2010 Gary L. Francione
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Tradução: Regina Rheda